quarta-feira, 23 de junho de 2010

vazios(#2)



Mais um dia em vão no jogo em que ninguém ganhou
Dá mais cartas, baixa a luz e vem esquecer o amor
És tu quem quer
Sou eu quem não quer ver que o tudo é tão maior
Aqui está frio demais para apostar em mim.

Vê que a noite pode ser tão pouco como nós
Neste quarto o tempo é medo e o medo faz-nos sós
És tu quem quer
Mas eu só sei ver que o tempo já passou e eu fugi
Que aqui está frio demais para me sentir... mas queres ficar?

Tudo o que é meu
É tudo o que eu
Não sei largar

Queres levar
Tudo o que é meu
É tudo o que eu
Não sei largar

Vem rasgar o escuro desta chuva que sujou!
Vem que a água vai lavar o que me dói!
Vem, que nem o último a cair vai perder.


Tiago Bettencourt - O Jogo

segunda-feira, 14 de junho de 2010

gota.

O rio corre colina abaixo, silencioso, altivo, objectivo. A minha mente divaga para o destino das gotas de água que vejo diante mim, em correrias, ora a voar, olha a rastejar por paredes, ora a serem engolidas pelo chão. Tudo de infinito para infinito. E eu divago.
Penso em nós na condição de rio por colina abaixo. Penso em nós como a adesão das moléculas de água que correm, escorrem e que se transparecem no mundo. Penso em nós como a adesão que alimenta as copas das árvores mais altas. Penso em nós na tensão que faz chorar videiras. Penso em nós... Sim, penso em nós.
Ora a voar, ora a trepar paredes, ora em correrias, ora a sermos engolidos pelo chão, direitinhos à mais funda porção de terra sedenta. Ora a transparecer no mundo, ora a transparecer o mundo.

Mas o pensamento é ilimitado. De infinito para infinito. Tal como a gota de água, e todo o ciclo que esta transporta às costas, para a eternidade. E deixo de divagar. Nada mais esta linha é do que o meu pensamento a voar, a trepar paredes, a correr, a ser engolido, a transparecer-se.


Tenho as minhas mãos cheias de tudo o que não posso dar. Cheias de um pensamento que me preenche, mas que tem como linha um ar rarefeito.
Quanto mais te encontro, mais me perco.