sexta-feira, 8 de março de 2013

-te e não -te.

Enquanto -te faço
crescer,
Uma brisa procura
o meu encontro:
Traz o teu cheiro.
Há uma janela aberta,
há luz lá fora.
Estas tu
cá dentro
e eu oculto -me no
desejo
que se torna tão negro
numa sela onde a luz
-te afoga.
"É bom demais":
engole -me
o pensamento.
Oculto -te, -me.
Não posso,
não -te transbordo
nem -te dou a entender,
de modo a que não
saibas quem -me és.
"Não quero que certas situações
sejam mal entendidas"
Afoga -te a luz
Engole -me o escuro
quando penso
o que era
se fosse(-)mos.

Não -te vás.

quinta-feira, 7 de março de 2013

adeus

Pára de gritar a palavra "adeus" ao vento, à espera que ela seja projectada contra o meu peito.
Se queres dizer adeus, projecta-a no meu rosto.
Adeus.

quarta-feira, 6 de março de 2013

relatório de breu.



Talvez seja hoje o último dia em que, do cimo da tua escada, me vejas passar.
Os meus braços fraquejaram quando, no meu campo de visão, me encara novamente: uma estrada que se levanta sempre que desespero percorrer algo sem ti. 
Os negros corvos visitam a carpete do meu quarto, outra vez. A insónia insiste em não deixar arrefecer o lado frio da cama. Oferece-me, sorrindo, um enorme sentimento que transborda vazio... vazio, igual a tua liberdade idiota que nunca serviu senão para me acabar, aos poucos. Talvez seja esse o nosso problema: a minha vida em contraste com a tua experiência-mais-ou-menos, que dos teus lábios é cantada como como “aproveitar a vida sem amarras: a nada, a ninguém!”
A insónia embala-me num certo fascínio indescritível em procurar palavras que não existem para encontrar descrita a textura de uma página virgem. As minhas mãos tremem, não sei se de frio ou saudade.
O ranger da ferrugem que veste estes velhos portões sempre foi um pedido de socorro aos meus tímpanos nos assombros que o silêncio se nega a me poupar. No meu coração, tudo é guerra, tudo é perda. As folhas secas que se libertavam das árvores foram corrompidas pela necrose acumulada nos cantos dos seus muros. O medo maior, acima dos corvos que ocupam a carpete e a insónia que me abraça, carinhosamente, sob os lençóis, sem dúvida, é perder o pouco de amor que ainda resta às cansadas, árduas e ténues faíscas que acontecem no meu batimento latente. O meu peito dói.
Até o desespero, como tudo na vida, já se esvaiu. Cá estou, ajoelhada nos destroços do meu mundo, e aqueles gritos distantes que eu ouço são os meus. 
E tudo o que me rodeia são armários poeirentos que camuflam as rachas nas paredes da casa espancada pelos tremores que o chão, um dia, deixou escapar.
Nestas noites, costumava ouvir dos esconderijos da lua as mais belas cores que a escuridão permite desfrutar, distantes... ecos gemidos. Hoje ouço soluços de dor que o amor, em mim, nunca ofegou: Hoje foi a última vez em que, do cimo da tua escada, me viste passar.