sexta-feira, 30 de setembro de 2011

tired

Numa rua vazia caminho em passadas largas, como levada na corrente de pessoas à hora de ponta.
Mas o vazio é o meu único acompanhante.
Não tenho nenhum compromisso, nem ninguém a quem ligar.
Sou eu, e o vazio que na rua me acompanha a passadas aceleradas que me levaram a perder-me, já há um tempo. Sem uma única vez ter dado uma em direcção à minha procura.
Deixo-me pelo caminho, sinto apatia quanto a esse facto.

Por acidente, tropeço em alguém, na minha passada longa. Conhecemo-nos, faz-me abrandar, pensar que seria melhor encontrar o que perdi e voltar a casa. À minha própria casa.
Conversamos horas, dias, semanas, sobre tudo o que poderia ser falado. E a meio do meu discurso leva-me ver ao fundo, numa luz ofuscante, um desejo desfasado de me procurar. A mim, a quem um dia eu fui.
Um dia olho fixamente nos seus olhos, de tal modo que, pela expressão, deve incomodar.
E, passado umas horas, faço-lhe companhia à estação, espero que entre no comboio. Vejo acenar, enquanto o comboio avança em direcção ao seu futuro. Num gesto inconsciente, a minha cabeça anui.
Não conseguia aproximar-me, algo me fazia sentir constantemente à beira de uma ravina. Algo esse chamado entrega.
Voltei à rua vazia ausente de mim, onde comecei. Na inércia da qual minha cama é feita, sigo o meu ritmo nas passadas que pensei serem da correria característica da hora de ponta. Mas afinal são as minhas. Como tudo na vida, esse alguém desapareceu.

É por isto que passarei a minha vida a esconder o meu coração.
E eu não conseguirei esconder o meu coração toda a vida.

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