terça-feira, 26 de outubro de 2010

anti-formatação.

(Introdução - parágrafo primeiro)
Dei umas passadas no meu pensamento, fortes, antítese de mim (não?). Dei umas passadas pensativas, na hipálage do meu ser. Passadas pensativas de caminho moldado a meus pés, no caminho-mundo que gira à velocidade que quer, deixando-me viver saboreando a maré. Desarmei hipérboles, consciencializei-me de interrogações retóricas, eliminei palavras redondamente caídas em epanadiploses, inverti-me, na anástrofe das minhas frases, mas agarrei-me ao seu sentido. Tudo em passadas no meu pensamento. Tudo em passadas pensativas. Tudo sem sair do mesmo sítio. Tudo como se tivesse caminhado milhas. Tudo na minha cabeça.

(Desenvolvimento - parágrafo segundo; não esquecer de utilizar articuladores do discurso!)
Já é noite e o frio está em tudo o que se vê. Lá fora ninguém sabe que por dentro há vazio, porque em todos há um espaço que por medo não cedeu, onde a solidão se esquece do que o medo não previu. Já é noite e o chão é mais terra para nascer. A água vai escorrendo entre as mão a percorrer todo o espaço entre a sombra e o pedaço que restou, para refazer da vida o que o medo não matou. Porque onde tudo morre nada pode acontecer.
Já é dia e a luz está em tudo o que se vê. Cá dentro não se ouve o que lá fora faz chover, na cidade que há em ti, no lugar que há em ti, e é ai que vou ficar. Porque onde tudo morre tudo pode renascer.


(Conclusão - paragrafo terceiro) Portanto (articulador conclusivo) os lobos uivam... mas eu danço mais alto. Sento-me à beira mar à espera de maré. É preciso esperar, primeiro que não chova. Mas é aqui que vou ficar.


Sou má a funcionamento da língua. Mas escrevo e hei-de sempre escrever como quero. Venham mais acordos! Não venço mas não me junto. Tudo isto são Letras Livres, e é aqui que vivo!