segunda-feira, 10 de junho de 2013

caos

Eu amo o teu caos.

Um dia, pensei que o vácuo nunca pudesse preencher alguém. No entanto, teu sombrio e solitário inverno que me fascinou, me empurrou, me enganou, é aquele que me abraça agora, quente, acolhedor, dócil.
E o inverno que me és, atrai porque sou confusa, sou triste. Porque ninguém entendeu o sorriso rasgado no qual a solidão me afogava, a não ser... tu.

E hoje, escrever deixou de ser um acto nocturno, compassado por respiração dolorosa. Hoje, escrevo deitada no teu chão, e o meu relógio não tem mais horas escuras. Hoje, os meus dias não possuem mais espirais vertiginosas ao aproximar-se a noite. Hoje, não és mais a única palavra que encontrava para te nomear: medo.

Por isso, eu paro agora.

Porque hoje a minha casa não tem salas vazias. Tudo é alegria, tudo é amor, tudo és Tu.

O teu caos é uma benção. 
Abraça-me, e... fiquemos neste novo infinito. 
Sempre.
"Amo-te pelas tuas faltas.
Pelo teu corpo marcado.
Eu amo as tuas mãos, mesmo que por causa delas eu não saiba o que fazer com as minhas.
Eu amo-te de alma para alma, quando o próprio amor vacila."
Fernando Pessoa


sábado, 6 de abril de 2013


"O Imprevisto
acontece
e alguém
te encontra,
te reinventa
te reencanta...
te recomeça."

sexta-feira, 8 de março de 2013

-te e não -te.

Enquanto -te faço
crescer,
Uma brisa procura
o meu encontro:
Traz o teu cheiro.
Há uma janela aberta,
há luz lá fora.
Estas tu
cá dentro
e eu oculto -me no
desejo
que se torna tão negro
numa sela onde a luz
-te afoga.
"É bom demais":
engole -me
o pensamento.
Oculto -te, -me.
Não posso,
não -te transbordo
nem -te dou a entender,
de modo a que não
saibas quem -me és.
"Não quero que certas situações
sejam mal entendidas"
Afoga -te a luz
Engole -me o escuro
quando penso
o que era
se fosse(-)mos.

Não -te vás.

quinta-feira, 7 de março de 2013

adeus

Pára de gritar a palavra "adeus" ao vento, à espera que ela seja projectada contra o meu peito.
Se queres dizer adeus, projecta-a no meu rosto.
Adeus.

quarta-feira, 6 de março de 2013

relatório de breu.



Talvez seja hoje o último dia em que, do cimo da tua escada, me vejas passar.
Os meus braços fraquejaram quando, no meu campo de visão, me encara novamente: uma estrada que se levanta sempre que desespero percorrer algo sem ti. 
Os negros corvos visitam a carpete do meu quarto, outra vez. A insónia insiste em não deixar arrefecer o lado frio da cama. Oferece-me, sorrindo, um enorme sentimento que transborda vazio... vazio, igual a tua liberdade idiota que nunca serviu senão para me acabar, aos poucos. Talvez seja esse o nosso problema: a minha vida em contraste com a tua experiência-mais-ou-menos, que dos teus lábios é cantada como como “aproveitar a vida sem amarras: a nada, a ninguém!”
A insónia embala-me num certo fascínio indescritível em procurar palavras que não existem para encontrar descrita a textura de uma página virgem. As minhas mãos tremem, não sei se de frio ou saudade.
O ranger da ferrugem que veste estes velhos portões sempre foi um pedido de socorro aos meus tímpanos nos assombros que o silêncio se nega a me poupar. No meu coração, tudo é guerra, tudo é perda. As folhas secas que se libertavam das árvores foram corrompidas pela necrose acumulada nos cantos dos seus muros. O medo maior, acima dos corvos que ocupam a carpete e a insónia que me abraça, carinhosamente, sob os lençóis, sem dúvida, é perder o pouco de amor que ainda resta às cansadas, árduas e ténues faíscas que acontecem no meu batimento latente. O meu peito dói.
Até o desespero, como tudo na vida, já se esvaiu. Cá estou, ajoelhada nos destroços do meu mundo, e aqueles gritos distantes que eu ouço são os meus. 
E tudo o que me rodeia são armários poeirentos que camuflam as rachas nas paredes da casa espancada pelos tremores que o chão, um dia, deixou escapar.
Nestas noites, costumava ouvir dos esconderijos da lua as mais belas cores que a escuridão permite desfrutar, distantes... ecos gemidos. Hoje ouço soluços de dor que o amor, em mim, nunca ofegou: Hoje foi a última vez em que, do cimo da tua escada, me viste passar.

sábado, 19 de janeiro de 2013

redundância


Porque...
como não conseguimos coexistir no mesmo espaço,
vamos coexistindo no tempo, 
deixando que ele nos vá sendo
enquanto não temos coragem de voltar ao espaço que deixámos entre nós.

Eu não te procuro,
nem mais o que sou
quando te deixo.
Eu não me procuro
nem mais o que és
quando me deixas.

Simplesmente... coexistimos melhor assim:
Sem coexistir!
Aproximamo-nos estando longe,
afastando-nos quando estamos perto,
neste medo do que podemos ser a poucos metros de distância.
Mais vale não ser.
Mais valia que nunca nada tivesse sido.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

dor em letra minúscula.

já passou o Outono, já tornou o frio.

Outono esse, de seu riso magoado
que me oferece um obliquo Sol gelado
o Sol, e as fortes marés que me assombram de frente,
fugindo sob o meu olhar cansado.

para onde vais, meu vão cuidado?
onde vais, coração vazio?

que fiquem, cabelos dele
fiquem comigo, como ele não o fez.

as Águas frias retornam agora a minha dor
sustem-me na respiração
e depois, tudo me levam...

o meu reflexo no areal molhado já não sou eu
mas sim alguém que entretanto, docemente, me quis conhecer
e me ficou sendo,
enquanto desenlaçavas a tua mão da minha.

que vão, cabelos dele
que levem o seu olhar cismado
nas ondas retardadas e longamente onduladas,
leva as suas translúcidas mãos frias,
que o gelo nunca serviu de lareira
para aquecer Corações.