sexta-feira, 8 de junho de 2012

abraça-me.





Fotografia de: Tiago Guerreiro

in: http://www.flickr.com/photos/freedomtoclick

Há coisas que tens de saber sobre mim.
Há palavras escondidas em nota de rodapé.
Há sentidos em entrelinhas.
Há entrelinhas nos sentidos.
Há entrelinhas em sentido.

É o meu sentido, são os meus passos, os meus muros. Há segredos por descobrir, há palavras por destapar. Há um medo, um impasse, residente em mim.
Há um sentimento selvagem, dotado de garras, a rasgar tudo o que consigo ser... há um sentimento selvagem que me magoa. Sim... há uma mágoa. Há uma tristeza que é minha sombra, há um tornado que rasga as minhas cicatrizes. Há um pano. Há um pano que acabou de cair.

Há uma dor, há um grito mudo que ganha corpo e me arrepia, ao limite, e que finalmente se solta na minha garganta.
Abraça-me. Uma e outra vez.
Agarra-me.
E não me soltes.

Rodopios de garrafas sopram destas verdades.
Que sentimento é mais perene de toda a expressão dolorosamenre inacabada do verbo mais rasgado e possante do que a complexidade da sua conjugação em alta-voz?
Que branca esta cor, que me desnuda em transparência sempre que mergulho ponteiros e alma nesta mistura fina e primária... Porque o silêncio é a colisão bruta e perfeita entre a noite e o novo oriente, quando nem sei que horas são. E este silêncio entre nós possui tectos de vidro, que se quebram por acordes básicos de uma guitarra...

Um sorriso entardecino no cúmplice olhar dela e poesia ressacada nas adormece nas suas mãos. A esta hora, a janela é inundada por um cheiro a lua. Ele olha e sorri. Primeiro para ela, depois com ela. Porque ele sabe de si como cubinhos de gelo num falso refrigeramento. Porque ela sabe de si como falsos espinhos eriçados.

O escuro engole o mundo lá fora.
Há um pano no chão.
Há máscaras caídas.
Há acordes básicos e macios como música de fundo que me embala, de uma guitarra que chora...
...Abraça-me.

sábado, 2 de junho de 2012




 Fotografia de: Tiago Guerreiro


O dia inicia-me na sua dança, dá-me voltas e baralha-me e eu, como pena solta, soprada sou ao vento daquilo que traz os meus dias. Que me trazes nos meus dias.
Eu gosto de ver civilização...ao longe. Bem longe. Gosto de ser o areal que a reflecte ao final do dia. E por vezes gosto que te sentes aqui comigo. Que grites que sentes aquilo que o meu coração explode em poucos minutos, para tantas palavras. Que grites que aqui, ao longe, a vista é mais bonita, e que o reflexo te embala a adormecer no vazio que é a civilização. Tal traição é a do areal ao mundo, reflectindo o vazio que se tornou o ser Humano. Ser Humano sem ser.
Quando te sentas e  eu te digo que os pássaros que cantam do cimo de um ramo instável, me sussurram palavras que afinal consigo entender, e me olhas com cara de quem vive no centro da sua ignorância, eu sou feliz. Porque esse é o melhor lugar para se viver.
Preciso dessa acústica que me dás, dessa melodia que entra de pantufas porta a dentro, que ouves e gostas sem te aperceberes sequer que vibra o teu coração. Preciso desta melodia e nunca me tinha apercebido, em toda a vida. Dança no meu tímpano e encanta-me, com palavras sussurradas que tornam este solo mais bonito.


No reflexo do que vive, ao longe, por perto fica o sorriso no teu rosto e a certeza de que te cantarei acapela...sem medos.