sábado, 13 de março de 2010

avô


Nasci num cais.
Num cais longo e velho, imperfeito e frágil.
Nasci num cais, vivi de pesca. Vivi a pesca.
Nasci num cais sobre águas tumultuosas, águas de penumbra, águas medonhas e com toda a força da natureza.
Nasci num cais que me ensinou a ir pela maré e nunca contra ela.

Esse cais
mostrou-me as coisas mais belas da natureza,
mostrou-me o sentido mais controverso da vida,
mostrou-me que não vale a pena remar contra a maré.
Pois mesmo que reme,
o meu cais tem postes fixos em lodo,
postes fixos onde nada é fixo, mas que fixos estão.

Esse cais
ensinou-me que todos nós nascemos nesse lodo
estagnado,
que os dormentes lá fazem a sua cama,
e que a luz pode transformar o mais dormente
numa bela flor de lótus.

Nasci num cais
que é meu pai,
minha sabedoria,
meu interesse,
meu amor pela vida.

Sem comentários:

Enviar um comentário