sexta-feira, 19 de março de 2010

esfuma-te


fotografia: FingerTiips
em olhares.aeiou.pt/fingertiips


Eu nasci nalgum lugar onde se escuta o rio batendo contra o cais.

O sol recua na minha linha de horizonte, lenta e dolorosamente.
Como um rio que volta à nascente.


Esfuma-se o fumo perante tal gigante. Ele brilha.
O Sol rasga-me o céu, e o teu fumo.
Esfumas-te.
Foges.
Tentas fugir.
Mas o Sol tece-te o caminho.
Corres?
Não entendes?

Da minha janela vejo o Sol.
Vejo-te também, imperado e manipulado na urgência de fugir dele.
Na viagem contra o tempo,
no barco a favor de temporais.
Ainda corres?

Vejo a tua expressão, triste,
porque o rio na tempestade te levou ao mar
onde perdeste o pé da alma.
Onde gemes como o rio que bate contra o cais ausente.
Onde expressas a dor de leito de regresso à nascente.

Mas vejo o Sol da minha janela.
Vejo o Sol a acabar a sua rotina diurna,
e vejo-te mais uma vez fugindo dele
como fumo a favor do vento.
Não entendes?

Não corras, não fujas, não te esfumes;
Não te leves pelo vento nem por tempestades;
Minha fatalidade, do Sol respiras,
corre. Acabarás nele,
porque dele começaste.

3 comentários:

  1. o sol é fonte da vida!
    um rio que nasce na foz
    e desagua na nascente
    é um rio que é contrário
    ao caminho do sol poente...

    gostei das palavras sentidas
    como se esfumassem, assim doridas!

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  2. até as palavras se esfumam... fica apenas o que guardamos. e a rotina diária do sol.

    gostei muito de te ler.

    beijinhos eco

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  3. Nada fica sem resposta!

    Tudo volta ao seu local de partida....

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